terça-feira, 28 de julho de 2009



Amamentação como fator fundamental na prevenção de hábitos de sucção digital e chupeta- Revisão de Literatura .

*Taís Franco de Souza

O recém nascido apresenta um reflexo de sucção inato que necessita ser saciado e é fundamental para sua sobrevivência. Através deste reflexo será desencadeada a amamentação, um ato natural indispensável até os 6 meses de vida e com grande importância para a mãe e para o bebê. Os principais benefícios para o bebê são : a) nutricional, pois o leite materno possui componentes necessários para o desenvolvimento da criança que nenhum outro leite tem; b) emocional, pelo maior vínculo entre mãe e bebê; c) desenvolvimento adequado do sistema estomatognático, devido a um intenso trabalho das estruturas periorais e futuramente benefícios para a fala e alimentação. Na mãe, as vantagens da amamentação natural estão relacionadas a involução uterina mais rápida, menor incidência de câncer de mama e ovário, contracepção e um melhor vínculo materno infantil.

Algumas crianças apresentam o reflexo de sucção mais exacerbado, até quando a alimentação é realizada de forma natural, necessitando de um maior tempo de sucção mesmo quando já estão saciadas nutricionalmente. Nestes casos, para eliminar o reflexo, sugam o seio da mãe de forma inadequada ( apenas chupetando) ou recorrem à chupeta para ficarem calmas e saciadas. Com outros bebês não ocorre isso, o tempo de amamentação é o suficiente para satisfazê-lo nutricionalmente e emocionalmente.

Existem casos onde há impossibilidade da amamentação natural, como fatores sociais ( ex: depressão pós-parto, opção da mãe pela questão estética, retorno ao trabalho), ou fatores orgânicos ( ex:HIV e mastite) e muitas vezes há a opção pela amamentação artificial (mamadeira). Diante disso, devido sucção empobrecida na alimentação artificial, pela facilidade de obter o leite sem precisar sugar com tanta força, ocorrem alguns prejuízos para essa criança como: insatisfação quanto a necessidade de sucção e a não eliminação do reflexo, estimulação inadequada de ossos e músculos, flacidez da musculatura perioral, má formação da arcada dentária, respiração oral, problemas na fala, dentre outros. Tanigute ( 1998 ), afirma que quando a alimentação da criança ocorre naturalmente ( Seio Materno), são executados aproximadamente 2.000 a 3.500 movimentos de mandíbula, enquanto que na alimentação artificial esses movimentos diminuem, passando para 1.500 a 2.000.

Quando a criança deixa de ser alimentada pelo seio materno e passa a ser alimentada através da mamadeira, o trabalho da musculatura perioral é minimizado e não ocorre a exaustão e eliminação do reflexo. A partir desse fator, podem surgir os hábitos de sucção inadequados, que em alguns casos estendem-se por toda a infância. Dentre esses hábitos podemos citar: sucção digital, chupeta, sucção de língua ou lábios, sucção de objetos diversos, dentre outros, que trazem inúmeros prejuízos para a vida desse indivíduo. Boni e Degan ( 2004), ressaltam ainda que o aleitamento natural propicia a satisfação do reflexo de sucção, pois leva a criança a exaustão devido a alta energia desprendida através da sucção. Isso não ocorre com a alimentação artificial, principalmente com o bico convencional ou furo alargado, e é neste momento que a criança introduz a sucção não nutritiva ( Chupeta ou dedo ), que pode se tornar um hábito que inicialmente é pacificador de uma necessidade não realizada e posteriormente trás danos na área fonoaudiologica e odontológica.

“Alguns autores acreditam que hábitos orais surgem de necessidades psicológicas e podem ser transferidos quando a criança amadurece, passando de sucção de mamilo para sucção de dedo, onicofagia, mascar chicletes, fumar ou comer compulsivamente. Por isso há uma suposição de que a criança sugue o polegar devido o tempo insuficiente que é exposta ao aleitamento natural” ( BONI; DEGAN, 2004).

Diante do que foi exposto, podemos concluir que a amamentação além de propiciar um suporte nutricional adequado, satisfaz a necessidade do ato de sucção, confortando emocionalmente a criança, o que não ocorre com a alimentação através da mamadeira, e evita desta forma a introdução de hábitos inadequados de sucção digital e chupeta como pacificador de uma necessidade não realizada, que causa futuros danos para a criança nos aspectos fonoaudiológicos e odontológicos. Portanto, é fundamental está prática sempre que possível, visando o bem estar da criança em desenvolvimento. Caso não haja possibilidade da alimentação natural, deve-se optar pelo bico ortodôntico com furo pequeno para a mamadeira,e caso haja a sucção digital instalada deve-se tentar substituir pelo uso da chupeta ortodôntica e sem associação com a sensação de conforto e desconforto, tentando sempre retirá-la após o bebê adormecer.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DEGAN. Viviane V; BONI. Rosana C. Hábitos de Sucção, Chupeta e Mamadeira. São José dos Campos: Ed. Pulso, 2004.
JUNQUEIRA. Amamentação, hábitos orais e mastigação. Rio de Janeiro: Revinter, 1999.
LEITE. Isabel C.; PINHEIRO. Aline M.; BRUM. Luciana R.G.; SOUZA. Simone A.; MARINHO. Simone B.A. Relação da Amamentação com o desenvolvimento do sistema estomatognático. Jornal Brasileiro de Fonoaudiologia, 2002 . V.3, N.12, P.237-242.
MARTINS, F.J. Como e porque amamentar. São Paulo: Sarvier, 1987.
TANIGUTE. Christiane C. Desenvolvimento das Funções Estomatognáticas. In: MARCHESAN, Irene Q. Fundamentos em Fonoaudiologia : aspectos clínicos da motricidade oral. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 1998.

Fonoaudiologia

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Área da saúde que atua na promoção, prevenção, diagnóstico, orientação e tratamento da comunicação oral e escrita, voz, audição e funções de mastigação, deglutição e respiração, atendendo desde o recém-nascido até a terceira idade.